sábado, 24 de novembro de 2007

Café con piernas: uma nova febre que vem do Chile


Garotas em traje sexy servem bebida nos vários bares desse tipo; há estabelecimentos considerados sérios

Eles estão sempre nos cantinhos das galerias ou discretamente nas ruas do centro de Santiago, embora a onda expansiva já tenha levado esses locais até a periferia. Verdade seja dita, a epidemia dos "cafés con piernas" não é privilégio da capital chilena: a mania se tornou nacional.

E dizem que foi até exportada para São Paulo, para o bairro do Tatuapé, especificamente -mas não deu certo. O esporte de beber uma xicrinha de café nesses lugares tem um toque de voyeur que não cola nos brasileiros. Aqui temos praias com muitas moças de corpos dourados, verdadeiros violões, violinos, cavaquinhos.

E, convenhamos, quem vai querer pagar mais de um dólar por um café que é servido por uma garota de lingerie ou de biquíni sumário? E um cafezinho bem ruinzinho, diga-se de passagem.

Porque nos "cafés con piernas" sérios e respeitados de Santiago elas fazem exatamente isso, servir o cafezinho, e só. Não tem a extensão da intenção, mesmo que você receba um sorrisinho maroto, uma piscadinha de olho ou o tratem de meu bem.

Às vezes nem sorriso tem, percebe-se que as moçoilas não estão assim tão à vontade, mesmo enfiadas nessas roupinhas como recém-saídas da cama, ou, talvez, prontas para entrar. Todos os donos e donas de "café con piernas" do Chile, sem exceção, costumam recitar o mesmo discurso.

Dizem que esses são estabelecimentos muito sérios, onde as meninas só servem café e não podem, de jeito algum, aceitar propostas indecorosas ou diretamente, digamos, comerciais para sair com a freguesia para encontros amorosos. Não desejam que seus locais sejam, nem tangencialmente, confundidos com alguma coisa ligada à prostituição, o que, aliás, é legal no país, excetuando a de rua e a de atuação velada, escondida atrás de eufemismos extravagantes. Mas esses donos têm também aquela frase que deixa tudo ainda mais claro: "O que as meninas fazem depois do expediente não é assunto nosso".

Há locais sérios de verdade, como o pioneiro e famoso Barón Rojo, da calle Moneda, 724. Seu dono foi o mentor dessa idéia de colocar belas senhoritas para servir café mostrando, um pouco só, as pernas e outras partes arredondadas. Foi um reboliço geral, uma grande ousadia num país de moral rígida, onde a igreja continua tendo aquele forte poder de pressão no governo. Um dos prefeitos de Santiago, ligado à Opus Dei, tentou fechar esses negócios.

Mas a imprensa saiu com ele às ruas nessa romaria e, vendo que os chilenos não estavam gostando desse discurso moral, deu para trás com um sorriso amarelo frente às câmeras da TV, enquanto tomava um cafezinho num desses lugares. Falha nossa! E recolheu a linha.

Hoje os "cafés con piernas" continuam distraindo a vida dos santiaguinos ou, como eles dizem, "refrescando el almanaque". Cada local vai inventando formas de chamar a freguesia até seu balcão. Uns inventaram "o minuto feliz", onde dizem que as meninas tiram a parte de cima do biquíni e servem aquele inesquecível café com leite. Só que esse minuto do dia nunca se sabe exatamente quando vai ocorrer.

Outros adotaram a postura de ser praticamente um balcão transformado em divã, onde a freguesia vai contar suas mágoas de amor, ou contar as malvadezas que faz a patroa em casa, encontrando esse coitadinho, mártir do matrimônio, sempre alguém para ouvir suas desgraças, apoiados num ombro suave, perfumado e descoberto -para molhá-lo com lágrimas de crocodilo.

Dizem que a recíproca também é verdadeira, as moças contam suas desgraças ao cliente, que, com esse coração de vovozinha, vai pedindo um, dois, três cafés, depois uma cerveja, e a menina vai ganhando sua comissão.

Entre no Barón Rojo ou nos outros "cafés con piernas" sérios de Santiago, todo bom guia os conhece, e desfrute desse curioso deslize dos chilenos. Sua hospitalidade vai ficar ainda mais em evidência nesses lugares. As meninas têm muito carinho para dar e vender, no bom sentido da palavra.

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